Relatório FEBARJ

Dando sequencia aos trabalhos desenvolvidos durante a disciplina Núcleo Temático II, no dia 19 de junho fizemos nosso segundo trabalho de campo. Decidimos visitar outro ambiente bastante famoso no movimento hip hop, a FEBARJ. Trata-se de uma casa antiga situada na Lapa, onde são realizados bailes de hip hop com ênfase no estilo "underground".



Antes de começar o baile, a casa apresenta um grupo de "timabeleiros" que toca das 23 h até aproximadamente 00:30 h. Como a partir de 1 h é cobrado uma taxa para entrar (mulher: R$3 e homem: R$5), algumas pessoas aproveitam que esse primeiro momento é gratuito, e entram na casa noturna mais cedo.



O hip hop começa a tocar por volta de 01:30h, no entanto a casa ainda não esta cheia. O pessoal chamado do "movimento", como os b.boys e b.girls, costumam entrar a partir das 02:30 h. Esses em sua maioria estão caracterizados; vestindo, os homens: roupas largas, uniformes de basquete, tenis rasteiros, e acessórios como bonés, bandanas, munhequeiras, cordões longos, brincos com pedraria, entre outros; já as mulheres variam desde roupas largas e "masculinizadas" até um estilo mais sensual, em referência às famosas cantoras do gênero. É importante ressaltar que o público que frquenta a FEBARJ aparenta ter entre 18 e 30 anos.



As pessoas geralmente chegam em grupo e permanecem em seu espaço com ele. Como o local é pequeno e pouco arejado, algumas pessoas procuram se refrescar na varanda localizada no segundo andar, ou simplesmente saem da casa para depois retornarem - já que o "ingresso" para a entrada na FEBARJ é feito através de um carimbo na mão do frequentador. Assim as pessoas tem livre acesso à casa, não sendo obrigadas a permanecerem dentro dela durante toda a noite.



O baile dura até 5h da manhã, sendo que ele atinge o seu ponto alto aproximadamente por volta das 3h, quando começa a tocar as músicas mais famosas entre os adeptos ou simpatizantes do movimento, que varia desde o underground ao R&B/charme, nacionais e internacionais.



Acreditamos que, com esta observação, pudemos nos aproximar do que realmente é um baile hip-hop, pois este local é referência para o movimento hip-hop carioca. Com isso, constatamos ainda que, a Lapa, conhecida como um bairro boêmio, marcado historicamente pela samba e a gafieira, também tem espaço para diveros tipos de manifestações musicais e culturais.




Seminário Hutuz - 2008

Questões socioculturais tomaram conta do CCBB no primeiro dia do Seminário Hutúz 2008


A banalização do Hip Hop americano e a postura do Samba perante a sociedade foram os temas que movimentaram o debateFoi reflexiva a quinta-feira (13/11), primeiro dia do Seminário Hutúz, que aconteceu no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), no centro da cidade do Rio de Janeiro. O encontro foi baseado no tema “Favela rima Samba ou Hip Hop?”, que levou a platéia a refletir sobre estes segmentos culturais, suas posturas perante a sociedade.




A mesa foi composta por Sandra Almada, que é jornalista, professora universitária e uma das fundadoras da Central Única das Favelas (CUFA); e por Marcelo Jacob, que é Diretor de Harmonia da Escola de Samba Portela e foi substituindo o presidente da agremiação, Nilo Figueiredo – que não pôde comparecer por motivos pessoais, assim como o ator e cantor Sergio Loroza. Quem mediou a discussão foi Anderson Quak, ator e diretor da Cia. de Teatro Tumulto.

Dando início aos questionamentos, Sandra Almada ressaltou que os movimentos sociais falam com a comunidade. “Hoje não é necessária a presença do intelectual para intercambiar conhecimentos com a sociedade. Os movimentos sociais oriundos das favelas fazem esse papel, como por exemplo, o Hip Hop”, disse a jornalista, confirmando a importância do Hip Hop enquanto fala da favela para a sociedade.

Quando perguntada sobre a possibilidade de a mídia prejudicar a inserção da cultural Hip Hop aqui no Brasil, como acontece nos Estados Unidos, Sandra disse que a mesma tem um lado bom e um lado ruim: “Ao mesmo tempo em que os movimentos sociais podem ter visibilidade por estarem presentes nos veículos de comunicação, a indústria cultural cria seguimentos que podem distanciar o verdadeiro intuito daquela manifestação, o que acontece com o Hip Hop americano”, refletiu a jornalista, argumentando que essa questão ainda deve ser discutida.



Para Marcelo Jacob, Samba e Hip Hop estão interligados. “Ambos são manifestações da favela. É uma interação perfeita que tem tudo pra dar certo num processo de evolução cultural, ou seja, o Carnaval já sofre esta mudança, o que o deixa mais belo”, comentou, adiantando que em 2009 a Portela vai levar uma surpresa ligada ao Hip Hop para a “passarela do Samba”.

O público se fez presente, apimentando ainda mais o encontro. Uma das questões levantadas foi sobre como o Carnaval contribui para melhorar a condição de vida das pessoas que dele participam. Jacob respondeu dizendo que as escolas de samba se transformaram em empresas, onde são feitos projetos por meio de parcerias e convênios para atender a comunidade que norteia o Samba. Esses projetos vão do esporte à cultura, passando por cursos de capacitação para o mercado de trabalho. “Na Portela, a comunidade foi resgatada. As pessoas, além de fazerem parte do corpo de colaboradores, participam dos cursos profissionalizantes oferecidos”, salientou.


Por: Filipi Santos.


Mesa 1: Favela Rima Samba ou Hip Hop?
Dia 13/11 – 18:30h
Descrição: Apesar de serem gêneros musicais distintos, Samba e Hip Hop guardam em si, semelhanças latentes, uma vez que são expressões sócio-culturais afro-brasileiras, oriundas das favelas e detentoras de um mesmo papel de resistência e afirmação de identidade. Entender como estas manifestações adquiriram, ao longo do tempo, relevância dentro da cultura brasileira, bem como identificar as reações negativas que estas ainda imprimem à sociedade são algumas das questões que norteiam a mesa.Participações: Anderson Quak (Diretor da Cia. de Teatro Tumulto) - MediadorSérgio Loroza (ator e cantor), Sandra Almada (jornalista) e Nilo Figueiredo (Presidente da Portela).


Mesa 2: Elas, do Carnaval ao Hip Hop-Pela Valorização da Mulher Brasileira

Dia 20/11 – 18:30h

Descrição: A participação da mulher no Samba e no Hip Hop não se restringe somente aos quesitos beleza e sensualidade. De fato, sua trajetória nestes gêneros tipicamente masculinos foi e continua sendo marcada por muitas lutas e conquistas, servindo ainda mais para reafirmar, integrar e disseminar a figura feminina. Entretanto, ao mesmo tempo em que há uma propagação, acontece também uma série de preconceitos cercados de desvalorização e banalização de imagem. Se cabe à mulher reverter este quadro, é importante que se compreenda como essas manifestações sócio-culturais podem legitimar a representatividade social das mesmas, entendendo-se a importância de sua contribuição dentro do cenário musical.Participações: Hannah Lima (rapper) - Mediadora Quitéria Chagas (modelo) e Marina Maggessi (deputada federal).


Mesa 3: Hip Hop é 10 no Quesito Harmonia

Dia 27/11 – 18:30h

Descrição:Neste século, o Hip Hop passou a ser um autêntico representante da cultura contemporânea urbana e um importante elemento aglutinador da juventude. Vale a pena ressaltar como este movimento pode constituir-se em uma importante ferramenta para o processo de construção da cidadania, bem como entender qual é a sua aceitação e relação com os demais movimentos populares, que também trabalham para construir o conceito de cidadania em suas áreas.Participações: Preto Zezé (apresentador do programa de rádio SE LIGA!) - Mediador Ricardo Macieira (Secretário Municipal das Culturas do Rio de Janeiro), Alessandro Buzo (escritor e apresentador do quadro “Buzão – Circular Periférico”) e Tommy The Clown (atração internacional).






HIP-HOP .. MUITO SE FALA, POUCO SE CONHECE


Há 23 anos ela está entre nós. Chega no formato de dança pelas ondas da TV em 1983, deixando muitos adolescentes impressionados pelas performances que se fundiam nos movimentos de mímica, passando por uma espécie de simulação de golpes marciais e gestos robóticos que se completam com acrobacias similares a capoeira. Não demora muito e logo esta febre é substituída pelo que conhecemos como Funk carioca. Mas, em outros estados, como é o caso de São Paulo, ela resiste e assume um papel especial na vida dos jovens das periferias, se fortalecendo e se materializando em mais três elementos: música (rap), arte plástica (graffiti) e a figura do DJ. Em 1992, o Rio de Janeiro reage – só que agora em número sumário de adeptos – e, ao contrário de antes, a apresenta através do discurso geopolítico de jovens do subúrbio que vêem nela uma forma de cantar os sentimentos e indignações, contra uma sociedade discriminatória. Nomes como Consciência Urbana (aonde o rapper e ator Big Richard – Turma do Gueto – era líder), NAT, Poesia Sobre Ruínas, RRR, Damas do Rap, Filhos do Gueto, Gabriel, O Pensador e Geração Futuro (cujo MV Bill era líder), colaboram para a popularização, não apenas do nome, como também do seu conceito, representando uma entidade existente até os dias de hoje: a ATCON (Associação Atitude Consciente).Neste caso, cabe ressaltar que o próprio rapper Marcelo D2, antes mesmo de formar o Planet Hemp, volta e meia nos visitava, já que as nossas reuniões ocorriam todos os sábados no CEAP (Centro de Articulação às Populações Marginalizadas), na Rua da Lapa (centro), sendo a sua barraca de camelô no Largo da Carioca...Particularmente, me sinto orgulhoso por fazer parte desta safra, que, incompreendidos por muitos da imprensa, política e até mesmo do seu próprio meio étnico-cultural, mantinham viva a chama da nossa cultura. Mas qual o nome deste movimento? Todos o conhecem como “cultura hip-hop”.Desde o seu nascimento nas ruas do bairro do Bronx (NY), em 1974, tendo como padrinhos os DJs Afrika Bambaataa, Grand “Master” Flash e o jamaicano Kool Herc, o Hip-Hop desnudou-se da sua guetificação e fez morada em todos os lugares do planeta, mostrando às gerações em busca de sua afirmação social, através desta proposta de vida. Da música à dança, do vestuário ao comportamento e da linguagem a indústria, o hip-hop formou artistas, adeptos e empresários.Enquanto que o restante do universo se rende ao Hip-Hop, parece que muitos em todo o mundo, ainda não entenderam a natureza desta cultura, que, há muito tem nos influenciado, tanto direto, quanto indiretamente no nosso modo de vida. No Rio de Janeiro, isto não acontece de modo adverso. Esta efervescência de festas e eventos, que, a todo momento eclodem em nossa cidade, tem conotado um Hip-Hop, que igualmente ao Funk, podemos chama-lo de “pseudo hip-hop”. Todos querem se apropriar deste movimento cultural e não fazem a idéia do que estão lidando, preferindo importar um outro hip-hop, sem dar a importância devida a Cultura Hip-Hop nacional. Por quê será? Alguns DJs, verdadeiros profissionais da noite carioca tendem em dizer que a nossa música é pobre, só fala de violência, preconceito racial e pobreza, e não apresentam nenhuma versão voltada para as pistas. Não sei por que, mas esta mesma justificativa é também sustentada por alguns organizadores do entretenimento do subúrbio, que, de alguma forma, tendem em conflitar e reivindicar assim a sua posição, alegando sua posse sobre algo, que, a grosso modo, é pessimamente apresentado por estes . Cabe lembrar a estes, que, existe muito material nacional qualificado a se pesquisar para as pistas, a altura do produto internacional. É, acho que nascemos no país errado, pois todos têm medo do seu próprio idioma...! Já que estes têm tantas opiniões formais sobre o Hip-Hop, poderiam me esclarecer sobre a ausência das “mix tapes”? Foram estas que nos EUA fizeram o som inaudível do gueto se tornarem hits das pistas!Há também aquele braço “pseudo-religioso” do Hip-Hop nacional, que mais parece um cabedal de contradições, do que uma articulação séria e centrada nas bases do movimento, que, sem o menor tino para negociações, prefere atear fogo em Roma, sem antes sequer apurar os acontecimentos, anulando assim um futuro saudável para a nossa cultura.Devido a falta de conhecimento a respeito pela Cultura Hip-Hop, muitos de nossos jovens, cometem o erro em pensar que, atividades como a dependência de drogas em geral, portar armas ou freqüentar boates de nudismo, são hip-hop. O Hip-Hop tem sido retratado negativamente por muitos artistas que fazem rap. Esta negatividade é normalmente instigada e promovida pela indústria de disco e várias outras entidades, que exploram nossa cultura à custa do estado de consciência da juventude e da moralidade. Sendo assim, a “Universal Zulu Nation”, criada por Afrika Bambaataa e legitimada como a primeira entidade de Hip Hop do mundo, nos ensina que há uma diferença entre manifestar-se livremente a respeito da negatividade (ativismo) e promover isto como desejável estilo de vida. Expressões como “gangstas, pimps, husthers, niggas, spics e playas”, entre outras palavras, que, uma vez foram utilizadas nos EUA contra o crescimento do verdadeiro Hip Hop, hoje fazem parte do nosso vocabulário diário em todos os cantos do planeta, inclusive aqui.Desde a década de 80 até hoje, a indústria do rap e a mídia têm ajudado a fazer do “hip-hop” e do “rap” sinônimos, omitindo os outros elementos que fazem parte da cultura. Devido esta enorme omissão, a Zulu Nation promoveu o “5º. elemento” do hip-hop: o “Conhecimento”. Baseado neste conceito, Bambaataa declara:“Quando nós criamos o hip-hop, o fizemos esperando que seria sobre a paz, amor, união e diversão e que as pessoas se afastariam da negatividade que estava contaminando nossas ruas (violência de gangues, tráfico de drogas, complexos de inferioridade, conflitos entre afro-descendentes e latinos). Embora esta negatividade ainda aconteça aqui e ali, a medida que a cultura cresce, nós desempenhamos um grande papel na resolução de conflitos e no cumprimento da positividade.”Nosso objetivo é dar uma visibilidade coesa não apenas acerca da nossa cultura (Hip-Hop), como também outras ramificações da cultura negra –specialmente a black music – proporcionando aos internautas, independente do seu credo, cor, raça e estado social, sua inclusão dentro de um universo, que desde o inicio de sua existência, tem transformado positivamente o comportamento daqueles que o escolheram como filosofia de vida!"




by Texto adaptado da página da LUB: http://www.lub.org.br/

Os circuitos dos jovens urbanos - José Guilherme Cantor Magnani

Introdução

Este artigo apresenta os resultados de um trabalho sobre os jovens e suaspráticas culturais e de lazer, redes de sociabilidade e relações de troca (etambém conflito) no contexto urbano de uma grande metrópole, no casoa cidade de São Paulo. As pesquisas que estão na base das reflexões aquiapresentadas foram realizadas no âmbito do Núcleo de Antropologia Urbana(NAU/USP)1, mas devem ser levados em conta também muitos dostrabalhos feitos na disciplina Pesquisa de Campo em Antropologia, ministradapor mim no curso de graduação de Ciências Sociais da FFLCH daUniversidade de São Paulo2. Nessa disciplina, os alunos são iniciados nasartes da etnografia, desde a escolha do objeto e a discussão do tema, passandopela elaboração do projeto e idas a campo, até a entrega do relatóriofinal. Muitos projetos de pesquisa de pós-graduação (e carreiras acadêmicas)tiveram aí seu início e incentivo.São justamente algumas dessas pesquisas de iniciação científica e demestrado, desenvolvidas como continuação de trabalhos de graduação, asaqui mostradas para expor o tema e a forma como ele foi tratado no enfoqueda antropologia urbana.
Baladas black e rodas de samba
O trabalho de campo sobre este tema foi iniciado por Márcio Macedona disciplina “A pesquisa de campo em antropologia”, por mim ministradano curso de graduação de Ciências Sociais da FFLCH/USP. Esse estudo foidepois retomado por Márcio, que buscou rastrear, historicamente, a presençanegra no centro da cidade e, a partir dessa ocupação, descrever trajetosdentro de um circuito específico de jovens negros na noite paulistana.“O centro é black, man!”, e não é de hoje. Sem ir muito longe, tomandocomo referência apenas a ocorrência de salões de dança, é possível remontaraté antes do período da Frente Negra Brasileira (FNB), nos anosde 1930, com seus bailes sociais, nos moldes dos clubes recreativos e so182Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 17, n. 2Os circuitos dos jovens urbanos, pp. 173-205ciais dos imigrantes ou da elite paulistana: por volta de 1910, já se temnotícia da expressão “negro de salão” para designar o freqüentador de clubesque, em eventos familiares e bailes caseiros, se diferenciava pelas maneirase indumentária mais refinadas, adquiridas nos salões de baile docentro da cidade.O exercício etnográfico proposto por Márcio para a pesquisa “Os caminhosda metrópole” foi partir da presença significativa de jovens negros nocentro da cidade no final da jornada de trabalho de sexta-feira, reunidosnuma roda de samba coloquialmente denominada “Samba de Bandido”ou “Samba da Dom José” (referência à rua Dom José Gaspar, local doevento), e a partir dela rastrear o circuito black em alguns pontos de diferentesregiões da cidade. Esse ponto de encontro no centro, no calçadão deuma das ruas até essa hora tomada por camelôs e seus produtos de origemduvidosa (roupas, tênis, bonés, DVDs etc.) que aos poucos vão cedendoespaço para vendedores de cds de rap, R&B, samba, e carrinhos com bebidas,situa-se em frente a uma lanchonete sem nome. E a rua ferve! É umaespécie de happy hour para os jovens trabalhadores da região e ponto departida para a noite que, em sua versão black, promete...São três os espaços pesquisados e que se diferenciam pelo entorno, pelotipo de música e de dança, pela roupa dos freqüentadores, por seu poderaquisitivo e pela, digamos, proporção entre jovens negros e brancos. O primeiro,chamado “Sala Real”, fica na Boca do Lixo (zona de prostituição),ainda na região do centro; os ingressos são mais baratos, a maioria dos freqüentadoresé constituída por negros, há forte presença do hip-hop e amúsica é predominantemente internacional. O outro é o “Sambarylove”,no Bixiga: o público é também majoritariamente negro, provém de toda acidade e também do interior do estado (trazidos em ônibus de excursão); asopções musicais são mais variadas: samba, samba-rock, axé music, rap,R&B, raggamufin e “melodia” (lenta). Se na Sala Real o som é consideradounderground, aqui é mais “comercial”. A terceira casa é o “Mood Club”, nobairro de Pinheiros: mais elitizada, conta com manobristas e tem página nainternet. A maioria do público é de jovens brancos. Ainda que a interaçãoentre negros e brancos seja pequena, é consenso de que as atrações da casasão a possibilidade de encontros e paqueras inter-raciais e uma musicalidademais refinada, entendida como underground. A seleção de músicas –R&B, rap e raggamufin – privilegia as internacionais, não há pagode nemmúsica lenta. Outro atrativo da Mood, voltada para negros de classe média,é que espaços como o dessa casa podem ser associados a uma noção deque espaços como o dessa casa podem ser associados a uma noção denovembro 2005 183José Guilherme Cantor Magnani“distinção” à la Bourdieu, ou seja, busca-se criar um “estilo de vida” queseja representativo de uma condição de classe. Dentro dessa lógica, estarnum local mais refinado, caro, confortável, heterogêneo do ponto de vistaracial, entre outras coisas, faz todo o sentido.A Vila Madalena propriamente dita não possui casas diretamente identificadascom a black music: algumas delas oferecem esse estilo em determinadosdias da semana – e, nesse sentido, também fazem parte do circuitoblack jovem –, para um público mais heterogêneo. Algo muito interessanteobservado nesse circuito foi a tensão entre uma postura de “afirmação” e aapropriação do estilo black internacionalizado por parte de um públicomais amplo, o que possibilita, de certa forma, encontros e contatos.Mas não se pode esquecer que, na ponta do circuito, instaurando trajetosespecíficos na noite black, está o “Samba de Bandido”, que remete nãoapenas a uma ocupação histórica do centro da cidade pelos negros, comotambém a um tipo de afirmação que joga duplamente com o estigma: operigo atribuído à presença maciça de negros e, em menor medida, o samba,apenas um item a mais (e nem sempre o mais valorizado) na cena blackjovem e nas suas formas de afirmação.Casal dança samba-rock no salão Green Express, na região central de São Paulo.


B.boys e streeteiros na estação Conceição do metrô


Dois foram os pontos de interesse para a inclusão deste tema – desenvolvidopor Fernanda Noronha, Renata Toledo e Paula Pires – na pesquisa “Oscaminhos da metrópole”: em primeiro lugar, a ocupação por parte dessesatores da estação do metrô Conceição, na zona sul da capital, seguindo atradição do hip-hop paulistano que, inicialmente, nos anos de 1980, ocupoua estação São Bento, na região central: tanto em um caso como nooutro, trata-se de um espaço ideal para os ensaios/exibições típicos dessaforma de manifestação. O outro aspecto é o contato e as trocas entre doisgrupos – japas e manos – que, a julgar pela procedência, classe social, preferênciasestéticas, trajetos na cidade, dificilmente se poderia imaginar quepudessem estabelecer algum vínculo.Os “japas” são adeptos da street dance e os “manos”, da break dance; osprimeiros são de classe média, descendentes de japoneses, alunos de escolasparticulares; os outros, da periferia da zona sul, já no mercado de trabalho.

Foto: Paulo Fehlauer.

Os manos, ou b. boys, que estão já há cinco anos no Centro EmpresarialItaú/metrô Conceição, cultivam como estilo de dança o break (ou batidaquebrada), que é ligada ao hip-hop. É uma modalidade que exige mais forçafísica, alongamento prévio e as apresentações são mais individuais, culminandonos rachas ou desafios. Os b. boys criticam os streeteiros, cuja dançanão passaria de uma mistura de estilos, sem o rigor do break; ademais, elesnão teriam o “conhecimento”, elemento fundamental do estilo hip-hop.Os streeteiros, há três anos freqüentando o Centro, desenvolvem umadança mais coreografada, em grupo, que exige menos condicionamentofísico e mais sincronização dos movimentos: os espelhos do Centro Empresarialsão fundamentais para o aprimoramento dessa modalidade. Ensaiamprincipalmente nas manhãs e tardes de sábado, para depois se apresentaremem campeonatos nos eventos da colônia. Não se identificam como estilo que eles próprios denominam de “japinha” (franjas dos cabelosdesfiadas, mechas coloridas, as nucas raspadas), preferindo as calças big,camisetas Pixa-In Hip Hop Wear, tags etc., identificados com a estéticahip-hop. As meninas do grupo, contudo, não dispensam os bichinhos echaveirinhos nas mochilas e os celulares estilizados são a regra.No entanto, compartilham o mesmo espaço – e as inevitáveis tensõescom seguranças e funcionários, por causa do barulho e do uso das instalaçõesem um espaço onde o público e o privado não apresentam fronteirasnítidas – e também a mesma denominação genérica de “dança de rua”. Asdiferenças, além das já apontadas, ficam por conta das formas de deslocamentona cidade, do calendário letivo, das férias escolares, da duração dajornada de trabalho.Mas o específico desse recorte é que o Centro Empresarial Itaú/metrôConceição constitui um ponto de intersecção entre dois circuitos que emprincípio pouco teriam por que se encontrar. No entanto, seus atores dividemo mesmo espaço, entram em contato, estabelecem vínculos. A relaçãoé hierárquica, mas inversa à que se esperaria tomando como base nos indicadoressociais costumeiros de renda, escolaridade etc.: aqui, são os japasque reconhecem a superioridade dos b. boys e aprendem com eles os truquese manhas da dança de rua.

Relatório Viaduto




A expectativa era imensa para ir ao Viaduto de Madureira; Um baile reconhecido pelo movimento hip-hop no Rio de Janeiro, freqüentado por uma das integrantes do grupo, Camilla, durante uma boa parte de sua juventude. Quando escolhemos esse tema “musica e juventude” para desenvolver durante a disciplina “Núcleo Temático II” com a professora Rosemere Maia, percebemos que esta poderia ser uma oportunidade de reencontrar antigas amizades e voltar a ter um contato com os eventos. Poderíamos avaliar o que mudou e observar como está a organização dos bailes onde se manifesta o movimento hip-hop, as pessoas que freqüentam, etc. Desta forma, desenvolveríamos um trabalho baseado no momento atual e não em vivências do “passado”.
No dia 23/05/2009 fomos ao aniversário do Viaduto de Madureira e, como já era esperado, devido grande divulgação via internet, rádio e TV, inclusive em telejornais, estava lotado. O baile começava às 23h; Chegamos por volta de 24h. Esperamos um pouco para entrar, para podermos iniciar nosso trabalho de campo. Com um público além do suportável e com filas que subiam o próprio viaduto, quase chegando ao outro lado, já na entrada do baile o clima estava tenso. Segundo alguns freqüentadores as festas no viaduto só ficam boas após as 3h da manhã, porém queríamos chegar cedo para elaborarmos algumas estratégias.
O evento era em comemoração ao 19º aniversario do baile do Viaduto, mas quando entramos, percebemos que neste dia só iriam tocar DJs da década de 80 e 90, e assim compreendi porque além de muito cheio, o baile em sua maioria não tinha pessoas da faixa etária esperada – 18 a 25 anos, e sim pessoas mais velhas, de outras gerações. Vale ressaltar que a idade mínima para a entrada no baile é 18 anos, porém foi possível encontrar adolescentes, aparentemente entre 12 e 15 anos- no local.
Camilla verificou que praticamente nada mudou de lugar no evento. Algumas barracas de comida localizadas logo à esquerda, sendo que a primeira e a última comercializando bebidas alcoólicas/ destiladas. O que se mostrou como novidade foi o novo posicionamento de barracas de artigos voltado para o “movimento Black” - que varia de cd´s e dvd´s a blusas, camisas, cordões e brincos- que situava-se na entrada, agora está localizada ao centro; E à direita foi encontrada uma barraca comercializando somente bebidas sem álcool, coisa que não era possível encontrar tempos atrás, quando todos os tipos de bebida eram comercializados nas mesmas barracas.
Com muita dificuldade conseguimos chegar ao local em que por muitas vezes Camilla ficava com seu grupo. Chegando lá, percebemos que o seu “pedaço”, estava ocupado por mesas e cadeiras. Buscamos permanecer ainda neste local e de lá verificamos que o palco continua no mesmo lugar, cercado de telões onde passavam clipes de hip-hop. A única alteração seria o novo jogo de luzes, o que definiu uma mudança no local de apresentação dos grupos de dança, saindo do fundo, para frente do palco.
Além do som que muitas vezes pareceu “desconhecido” aos jovens. Outro fato que pode ter motivado um sentimento de decepção seriam as enormes filas. Durante o evento, Camilla foi à busca de bebida; Retornou à entrada, onde ficam as barracas e logo percebeu que havia uma fila enorme, que de tão grande fazia “caracóis”. Depois de ficar aproximadamente 40 minutos com sede e esperando chegar sua vez, decidiu entrar em outra fila menor que seria de outros tipos de bebidas, e após 15 minutos conseguiu ser atendida. Neste momento, em que se preparava para voltar para o “seu pedaço”, percebeu que uma multidão que ainda esperava para entrar no baile nas filas do lado de fora ameaçavam aos pouquíssimos organizadores, tentando derrubar o portão de entrada. Um rapaz, possivelmente um segurança do local, atirou quatro vezes para o alto. A partir daí foi um desespero, pessoas correndo, caindo,...
Foi uma situação desagradável, que demonstrou desorganização e falta de segurança para a quantidade de pessoas que estavam ali. Com isso fomos embora do baile e através de contato com amigos conseguimos sair pelos fundos (uma espécie de saída de emergência restrita). Ficamos em outro espaço, onde os freqüentadores do baile vão antes ou depois de entrar no baile do viaduto. As pessoas ficam em uma rua em frente ao Viaduto, onde o ponto de referência é um relógio comum de rua que marca a hora e a temperatura, cercado de barracas de bebidas e comidas variadas. Lá perguntamos a algumas pessoas sobre o que havia acontecido, e a percepção deles foi muito parecida com as nossas. A maioria nunca tinha visto o baile tão cheio e muito menos tinham presenciado tiros, ou ameaças de derrubar o portão de entrada. Disseram, ainda, que as razões para tal situação foi devido aos ritmos da década de 80 e 90 que trouxe tantas pessoas e de tantos níveis geracionais e a falta de organização na venda de bebidas. Outra questão que causou indignação seria o valor do convite, que foi vendido a R$ 10, 00 antecipado e na hora R$ 20,00 ou R$ 30,00. O público que deixou para comprar na hora, após pagar um valor considerado caro, teve que esperar um bom tempo para entrar. Outra reclamação seria o fato de ter acabado a cerveja e, após um longo de tempo de espera, foi reposto um estoque com a bebida quente.
Assim, realizada a pesquisa de campo e levando em consideração os depoimentos, concluímos que este pode não ter sido o melhor dia para fazermos esse trabalho. Acreditamos que os bailes do viaduto geralmente não são como este evento. É importante ressaltar que além da Camilla ter freqüentado o baile, outras pessoas que ainda freqüentam afirmaram esse dia foi totalmente atípico. Contudo, o que observamos serviu para termos uma noção de como é a organização do espaço e um contato com alguns jovens, que mesmo sendo minoria puderam, através de uma breve comparação deste evento com os outros bailes organizados no viaduto, colaborar para nossa pesquisa no sentido de apontar alguns pontos que são característicos como a faixa etária mais baixa, o som mais atual, uma menor quantidade de pessoas e a quantidade de bebida disponível.