Relatório Viaduto




A expectativa era imensa para ir ao Viaduto de Madureira; Um baile reconhecido pelo movimento hip-hop no Rio de Janeiro, freqüentado por uma das integrantes do grupo, Camilla, durante uma boa parte de sua juventude. Quando escolhemos esse tema “musica e juventude” para desenvolver durante a disciplina “Núcleo Temático II” com a professora Rosemere Maia, percebemos que esta poderia ser uma oportunidade de reencontrar antigas amizades e voltar a ter um contato com os eventos. Poderíamos avaliar o que mudou e observar como está a organização dos bailes onde se manifesta o movimento hip-hop, as pessoas que freqüentam, etc. Desta forma, desenvolveríamos um trabalho baseado no momento atual e não em vivências do “passado”.
No dia 23/05/2009 fomos ao aniversário do Viaduto de Madureira e, como já era esperado, devido grande divulgação via internet, rádio e TV, inclusive em telejornais, estava lotado. O baile começava às 23h; Chegamos por volta de 24h. Esperamos um pouco para entrar, para podermos iniciar nosso trabalho de campo. Com um público além do suportável e com filas que subiam o próprio viaduto, quase chegando ao outro lado, já na entrada do baile o clima estava tenso. Segundo alguns freqüentadores as festas no viaduto só ficam boas após as 3h da manhã, porém queríamos chegar cedo para elaborarmos algumas estratégias.
O evento era em comemoração ao 19º aniversario do baile do Viaduto, mas quando entramos, percebemos que neste dia só iriam tocar DJs da década de 80 e 90, e assim compreendi porque além de muito cheio, o baile em sua maioria não tinha pessoas da faixa etária esperada – 18 a 25 anos, e sim pessoas mais velhas, de outras gerações. Vale ressaltar que a idade mínima para a entrada no baile é 18 anos, porém foi possível encontrar adolescentes, aparentemente entre 12 e 15 anos- no local.
Camilla verificou que praticamente nada mudou de lugar no evento. Algumas barracas de comida localizadas logo à esquerda, sendo que a primeira e a última comercializando bebidas alcoólicas/ destiladas. O que se mostrou como novidade foi o novo posicionamento de barracas de artigos voltado para o “movimento Black” - que varia de cd´s e dvd´s a blusas, camisas, cordões e brincos- que situava-se na entrada, agora está localizada ao centro; E à direita foi encontrada uma barraca comercializando somente bebidas sem álcool, coisa que não era possível encontrar tempos atrás, quando todos os tipos de bebida eram comercializados nas mesmas barracas.
Com muita dificuldade conseguimos chegar ao local em que por muitas vezes Camilla ficava com seu grupo. Chegando lá, percebemos que o seu “pedaço”, estava ocupado por mesas e cadeiras. Buscamos permanecer ainda neste local e de lá verificamos que o palco continua no mesmo lugar, cercado de telões onde passavam clipes de hip-hop. A única alteração seria o novo jogo de luzes, o que definiu uma mudança no local de apresentação dos grupos de dança, saindo do fundo, para frente do palco.
Além do som que muitas vezes pareceu “desconhecido” aos jovens. Outro fato que pode ter motivado um sentimento de decepção seriam as enormes filas. Durante o evento, Camilla foi à busca de bebida; Retornou à entrada, onde ficam as barracas e logo percebeu que havia uma fila enorme, que de tão grande fazia “caracóis”. Depois de ficar aproximadamente 40 minutos com sede e esperando chegar sua vez, decidiu entrar em outra fila menor que seria de outros tipos de bebidas, e após 15 minutos conseguiu ser atendida. Neste momento, em que se preparava para voltar para o “seu pedaço”, percebeu que uma multidão que ainda esperava para entrar no baile nas filas do lado de fora ameaçavam aos pouquíssimos organizadores, tentando derrubar o portão de entrada. Um rapaz, possivelmente um segurança do local, atirou quatro vezes para o alto. A partir daí foi um desespero, pessoas correndo, caindo,...
Foi uma situação desagradável, que demonstrou desorganização e falta de segurança para a quantidade de pessoas que estavam ali. Com isso fomos embora do baile e através de contato com amigos conseguimos sair pelos fundos (uma espécie de saída de emergência restrita). Ficamos em outro espaço, onde os freqüentadores do baile vão antes ou depois de entrar no baile do viaduto. As pessoas ficam em uma rua em frente ao Viaduto, onde o ponto de referência é um relógio comum de rua que marca a hora e a temperatura, cercado de barracas de bebidas e comidas variadas. Lá perguntamos a algumas pessoas sobre o que havia acontecido, e a percepção deles foi muito parecida com as nossas. A maioria nunca tinha visto o baile tão cheio e muito menos tinham presenciado tiros, ou ameaças de derrubar o portão de entrada. Disseram, ainda, que as razões para tal situação foi devido aos ritmos da década de 80 e 90 que trouxe tantas pessoas e de tantos níveis geracionais e a falta de organização na venda de bebidas. Outra questão que causou indignação seria o valor do convite, que foi vendido a R$ 10, 00 antecipado e na hora R$ 20,00 ou R$ 30,00. O público que deixou para comprar na hora, após pagar um valor considerado caro, teve que esperar um bom tempo para entrar. Outra reclamação seria o fato de ter acabado a cerveja e, após um longo de tempo de espera, foi reposto um estoque com a bebida quente.
Assim, realizada a pesquisa de campo e levando em consideração os depoimentos, concluímos que este pode não ter sido o melhor dia para fazermos esse trabalho. Acreditamos que os bailes do viaduto geralmente não são como este evento. É importante ressaltar que além da Camilla ter freqüentado o baile, outras pessoas que ainda freqüentam afirmaram esse dia foi totalmente atípico. Contudo, o que observamos serviu para termos uma noção de como é a organização do espaço e um contato com alguns jovens, que mesmo sendo minoria puderam, através de uma breve comparação deste evento com os outros bailes organizados no viaduto, colaborar para nossa pesquisa no sentido de apontar alguns pontos que são característicos como a faixa etária mais baixa, o som mais atual, uma menor quantidade de pessoas e a quantidade de bebida disponível.

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