Charme, Underground, Rap – Qual é a sua “tribo”? Por Camilla Lessa e Luana Atanazio

O hip-hop, entre outros ritmos como o samba e o funk, se subdivide em vários estilos, sendo eles o Charme/ R&B, o Underground e o Rap. No entanto, dentro do movimento existem expressões de preconceito quanto ao ritmo preferido. Na sua maioria, as mulheres preferem o Charme/ R&B, por serem musicas mais melódicas, lentas com batidas que facilitam o “rebolado”. Uma dança mais sensual, que geralmente são internacionais, mas com atual ascensão das letras nacionais. Já o Underground e o Rap são letras mais pesadas, com batidas mais fortes e agressivas, que apresentam letras rimadas e que, na maioria das vezes, fazem uma denuncia, uma reivindicação e são marcadas por luta.

O que difere o Underground do Rap seria que no Underground as batidas são mais incrementadas, produzidas por produtores internacionais famosos. Já no Rap, sobretudo nos produzidos no Brasil, apesar de também possuírem batidas fortes, os Mc´s priorizam as letras - como eles mesmo dizem “usar as armas do papel, caneta e microfone pra contar a nossa realidade” e lutar por uma intervenção do Estado, ou um mínimo de dignidade perante a sociedade. Vale ressaltar que muitos encaram o Underground como um conjunto dos ritmos citados acima - o Underground e o Rap. Mas, analisando as definições e a partir de um contato mais próximo com esse movimento, é possível encontrar diferenças entre estes estilos, pelo menos no que se refere ao Brasil. A começar pelo ritmo identificado pela palavra americana “Underground”, que ao ouvi-lo é possível perceber nitidamente uma maior preocupação com as batidas, com a produção, enquanto no Rap prioriza as rimas. È importante frisar que grande parte do público que freqüenta casas de hip hop não compreendem o inglês e com isso eles acabam “curtindo” mais a batida. Contudo, quando digo que cada um destes estilos dão destaque a um desses pontos- ritmo/batida e letra, não queremos

dizer que há necessariamente um desprezo pelo outro.

Na cidade do Rio de Janeiro, o bairro de Madureira é um centralizador de eventos voltados para a “Black Music” (hip hop), com diversas casas/ locais direcionadas para este público. Podemos citar três como as visadas: o viaduto Negrão de Lima - às noites / madrugadas de sábado, e aos domingos no horário tarde/noite -; o baile realizado na quadra da escola de samba Portela (conhecido popularmente como “baile da Portelinha”), e no final da rua da mesma quadra, um espaço conhecido como Palácio do Pagode que acontece após o baile da Portelinha. Ambos os bailes são conhecidos por tocar “o melhor do Charme/ R&B”. No entanto, somente o último toca na mesma proporção Charme/ R&B e Underground/ Rap.

Como foi comentado, há um certo preconceito quanto ao estilo que cada grupo/ pessoa prefere. Os rapazes devem gostar mais do Underground/ Rap, e menos do Charme/ R&B, e quando tem alguém que contraria essa “norma”, os mesmos são vistos como os que não entendem de hip-hop. As mulheres, que “deveriam” curtir o R&B/ Charme, quando curtem os dois igualmente, ou preferem o Underground/ Rap, são admiradas pelos homens por terem um gosto expressivo pelas letras fortes e rimadas. Quando elas sabem as letras geralmente são “idolatradas”.

O único local que tivemos conhecimento que evidencia o hip-hop Underground/ Rap é uma casa aparentemente bem antiga chamada Febarj, na Lapa. Essa casa possui uma decoração parecida com as casas populares internacionais de hip-hop, com escadas de ferro, encenando um galpão, com lustres “transados”, varandas no 2º andar. Como, segundo alguns freqüentadores, no Rio de Janeiro não há muitos locais que toquem “o melhor do hip-hop” (ou seja, os desconhecidos de “qualquer mídia”), os únicos que ainda tem um "hip-hop de raiz", como o Dutão – Viaduto de Madureira, o baile da Portelinha, a Febarj e eventos particulares com Dj’s dos mesmos recintos, são os locais mais frequentasdos por tocarem o top dos hip-hops recentes internacionais. Os outros locais, como boates onde também são tocados outros ritmos, não são freqüentados pelas tribos com freqüência, devido a questão do “hip-hop novo” já ter sido lançado nesses outros ambientes, e quando começam a tocar nas rádios já não são mais uma novidade 1.

Por mais que haja um certo preconceito dentro do movimento hip hop, todos convivem juntos, já que há pouca oferta de locais para curtir exclusivamente esse ritmo. Com isso, eles se vêem “obrigados” a curtir o todo. Tomando consciência disso, as casas definem dias específicos/ festas, onde um determinado estilo dentro do hip-hop fica em evidência. Como é o caso da Febarj onde o dia mais marcante de Underground/ Rap é as sextas. Aos sábados é o dia em que o Viaduto de Madureira assume o ritmo Charme/ R&B.

Assim, dentro do moviemento hip-hop é possível constrir a sua “tribo”. A identificação com uma tribo geralmente está relacionada com a sua preferência quanto ao estilo que você irá traçar dentro do movimento. A partir da convivência com determinado grupo a cada evento, os frequentadores dessas casas acabam por construindo laços de amizade.

1 Vale ressaltar que muitos integrantes dessa tribo para se manterem atualizados, além de freqüentarem esses locais específicos da sua tribo, utilizam a Internet, sobretudo, rádios on-line internacionais, de comunidades do Brooklin ou Massashusets, por exemplo, para se manterem antenados no som que esta no auge lá.

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